Esta é uma tradução da página original em Inglês.

Por que o advogado do diabo não ajuda a alcançar a verdade

Se fazer de advogado do diabo significa desafiar uma posição ao dizer o que um adversário hipotético diria. Eu encontro isso com frequência em entrevistas e sessões de perguntas e respostas, e muitas pessoas acreditam que esta é uma boa maneira de colocar uma posição polêmica em teste. O que realmente faz é colocar a posição controversa em desvantagem.

Há uma maneira indireta de se fazer o advogado do diabo: por exemplo, “Se eu defendesse sua posição, como eu deveria responder se alguém dissesse XYZ?” – Isso é menos hostil do que o advogador do diabo comum, que simplesmente diria XYZ, mas tem o mesmo efeito.

Os adversários astutos tentam intencionalmente obstruir a consideração pensativa de uma posição que eles se opõem. Meu adversário astuto e sem escrúpulos (o “diabo”, digamos) não quer que meus pontos de vista obtenham uma audiência adequada, especialmente se o diabo acha que eles são válidos e as pessoas podem concordar com eles. A melhor maneira de evitar isso é me impedir de fazê-los entender.

O diabo consegue isso distorcendo minhas palavras: apresentando um contexto enganador no qual minhas palavras parecem significar algo além do que eu pretendia. Se isso for bem sucedido, ele vai confundir o público e vai distraí-los da questão, impedindo-a de ser devidamente levantada. Se isso faz com que minhas palavras pareçam significar algo que a audiência vai condenar, e que ninguém presente é realmente a favor, talvez eu precise de uma longa explicação para voltar ao assunto. Pode não haver tempo para isso, ou o público pode perder o foco.

Se eu tiver sucesso em superar o primeiro mal-entendido, o adversário astuto criaria outro, e outro. Se o adversário é melhor no cerco verbal do que eu, talvez eu nunca consiga passar o meu ponto de vista com sucesso. Se o estresse me deixa nervoso e eu tenho problemas para falar claramente, o adversário vai contar isso como um sucesso. Pouco importa para o diabo se minha posição seja vencida ou apenas eu pessoalmente, desde que o público rejeite meus pontos de vista.

Se você não é um verdadeiro “demônio” apenas se fazendo de advogado do diabo, você realmente não tem interesse em me impedir de apresentar o ponto pretendido. Mas você pode evitá-lo sem querer. Se fazer de advogado do diabo significa que você age de forma hostil mesmo que você não sinta a hostilidade. Uma vez que você decide dizer o que um adversário diria, é provável que você faça o trabalho na melhor forma possível, imitando o adversário mais difícil que você pode imaginar: o astuto e sem escrúpulos, cujo objetivo é se opor ao invés de chegar à verdade.

Se você sabe o que esses adversários me disseram, ou se você é habilidoso em imaginá-los, você diria as mesmas coisas que eles. Essas declarações podem distrair o público e bloquear a consideração da questão, como se um verdadeiro adversário as tivesse dito. Mas se você não é realmente meu adversário, esse resultado pode não ser o que você realmente quer. Se o seu objetivo fosse lançar luz sobre a questão, sua abordagem depõe contra você mesmo.

O que eu digo em muitas questões vai contra a posição de estabelecimento, e não espero que as pessoas concordem comigo sem considerar a questão completamente, incluindo os contra-argumentos. Na verdade, seria quase impossível para qualquer um evitar considerar os argumentos estabelecidos, já que todos os conhecem de cor. Julgar o que é certo exige chegar ao fundo da questão.

O tipo de perguntas que ajuda a chegar ao fundo de uma questão não são as que um adversário astuto e sem escrúpulos colocaria, mas sim as de uma pessoa pensativa que não se conformou per mente (1). São perguntas que distinguem os aspectos da questão, de modo que se possa ver as várias posições possíveis em cada aspecto, o que elas implicam e como elas se relacionam. Muito diferente de se fazer de advogado do diabo.

Assim, em vez de tentar se fazer de advogado do diabo, sugiro que você adote o objetivo de “sondar as questões”. E se lhe perguntarem como você responderia se alguém fizesse uma pergunta hostil, talvez este ensaio seja uma boa resposta.


Nota de rodapé

  1. O autor usa os pronomes “pessoa”, “per” e “pers” na terceira pessoa do singular, neutros em termos de gênero.